LITERATURA
MÁRIO DE ANDRADE - VIDA E OBRA
MACUNAÍMA
Resumo 1
Mário Raul de Morais Andrade
nasceu na Rua Aurora, na cidade de São Paulo, em 9 de outubro de 1893. Seu pai,
o Dr. Carlos Augusto de Andrade, de origem humilde, conseguira uma situação
financeira estável através do próprio esforço e muito trabalho. Sua mãe, dona
Maria Luísa, com quem Mário morou até o fim da vida, descendia de bandeirantes,
mas não era rica.
Quando adolescente, era um
estudante dispersivo, que tirava notas baixas e só se destacava em Português.
Enquanto seus irmãos Carlos, mais velho e Renato, mais novo – pianista de
talento, falecido ainda menino - eram elogiados, Mário era considerado a ovelha
negra da família. De repente, começou a estudar. Estudava música até nove horas
por dia, lia muito e logo começou a ganhar fama de erudito. A família passou a
admitir o seu talento, mas achava esquisitas suas preferências literárias.
Em 1917, morre seu pai. Mário
conclui, neste mesmo ano, o curso de piano no Conservatório Dramático e Musical
de São Paulo, publica seu livro de estreia Há uma Gota de Sangue em cada Poema
e conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade.
Metódico e estudioso, torna-se
Catedrático de História da Música, no Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo, em 1922, e, para sobreviver, ainda dá muitas aulas particulares de piano
e escreve artigos de crítica para diversas publicações.
Participa, como um dos
principais organizadores, da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São
Paulo, em 1922, e publica, neste mesmo ano, Paulicéia Desvairada (poesia), em
que radicaliza as experimentações de vanguarda modernistas. Em 1927, publica
Clã do Jabuti, em que trabalha poeticamente as tradições populares que
pesquisava e o romance Amar, Verbo Intransitivo, em que critica a hipocrisia
sexual da alta sociedade paulistana.
Em 1928, publica o romance
Macunaíma, uma das obras-primas da literatura brasileira, em que reúne inúmeras
lendas e mitos indígenas para compor a história do “herói sem nenhum caráter”,
que, invertendo os relatos dos cronistas quinhentistas, vem da mata para a
cidade de São Paulo.
Em 1934, é nomeado diretor do
Departamento de Cultura do Município de São Paulo, onde permanece até 1938,
quando muda-se para o Rio de Janeiro para ser catedrático de Filosofia e
História da Arte e diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito
Federal. Não se adapta à mudança, vive deprimido e, “numa noite de porre
imenso” bate com o punho na mesa do bar e fala para si mesmo: “Vou-me embora
para São Paulo, morar na minha casa”.
Volta para São Paulo em 1940,
trabalha no Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ajudara a
criar em 36, e viaja por todo o Estado de São Paulo, fazendo pesquisas.
Em 1942, publica O Movimento
Modernista, famosa conferência, em que faz o balanço e a crítica de sua geração,
“assinalando os erros do Modernismo, principalmente o que considera como
“abstencionismo” diante dos graves problemas sociais do seu tempo”. Sua saúde,
já frágil, piora a partir dessa época. Em 43, inicia a publicação das suas
Obras Completas, planejada para sair em dezoito volumes.
Em 25 de fevereiro de 1945,
aos 51 anos de idade, Mário de Andrade sofre um ataque cardíaco fulminante e
morre, deixando inacabado o livro Contos Novos (1946) em que se destacam
narrativas de inspiração freudiana, como “Vestida de Preto” e “Frederico
Paciência”, e contos de preocupação social, como “O Poço” e “Primeiro de Maio”.
Como crítico literário seu
legado é imenso. Em A escrava que não é Isaura (1925), por exemplo, reúne
ensaios provocativos contra o passadismo. Já nos Aspectos da Literatura
Brasileira (1943), aborda, de maneira bem menos passional, os mais importantes
escritores da literatura brasileira.
Com sua morte precoce o Brasil
ficou órfão de um dos seus mais fecundos, múltiplos e íntegros intelectuais
que, certa feita, definiu-se como “trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”.
Números muito modestos, levando-se em conta sua importância para a cultura
brasileira do século XX.
O
BRASIL NA DÉCADA DE 20
A sociedade brasileira, no
tempo em que surgiu Macunaíma, parecia bastante mudada. Já não tinha aquele ar
de fazenda que respiramos durante 4 séculos. Havia muitas fábricas
(principalmente em São Paulo), grandes aglomerados urbanos, com populações de
quase 1 milhão de habitantes. O comércio e a indústria prosperavam rapidamente,
graças ao mercado consumidor formado pelos moradores das cidades e pelos
colonos de origem estrangeira. As mulheres fumavam, iam sozinhas ao cinema,
exibiam as pernas.
Algo impressionava bastante os
brasileiros daquele tempo: a velocidade dos meios de comunicação e transporte!
Eram carros, bondes, trens, telégrafos, rádios, telefone… Empresas, bancos,
bolsas de valores…
Desde 1922, o país parecia
estar em ebulição: além da Semana de Arte Moderna, foi criado o Partido
Comunista e iniciado o movimento tenentista, que, durante toda a década de 20,
desafiou o governo federal. O clímax deste movimento foi a Coluna Prestes que
percorreu 33 mil quilômetros do interior do Brasil, travando mais de 100
combates, em dois anos e meio (1924-1927). Arthur Bernardes e Washington Luís
usaram todos os meios para combatê-la, lançando até o cangaceiro Lampião no seu
encalço. A Coluna, porém, não teve força para derrubar o governo central, nem
conseguiu rebelar o povo contra o regime. Esgotada, embora invicta, internou-se
na Bolívia. No entanto, a imagem de Luís Carlos Prestes, com seus prodígios de
técnica militar e de bravura pessoal, constituiu um mito que exerceu sobre os
intelectuais de esquerda (entre os quais se incluíam Mário de Andrade, Murilo
Mendes e Carlos Drummond de Andrade) uma grande fascinação. O tenentismo (com
seus levantes ao longo da década) aliado à crise desencadeada pelo estouro da
Bolsa de Nova Iorque em 1929, são fatos que se somam para derrubar a República
Velha na triunfante Revolução de outubro de 1930.
A
SEMANA DE ARTE MODERNA (1922)
A semana na realidade durou
três dias. Mas nunca três dias abalaram tanto o mundo da arte brasileira. Nos
dia 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, sob o apadrinhamento do romancista
pré-modernista Graça Aranha, os jovens paulistanos empenhados em revolucionar a
arte apresentaram, pela primeira vez em conjunto, suas ideias de vanguarda.
A Semana, realizada no Teatro
Municipal de São Paulo, foi aberta com a conferência A emoção estética na arte,
de Graça Aranha, em que atacava o conservadorismo e o academicismo da arte
brasileira. Seguiram-se leituras de poemas de, entre outros, Oswald de Andrade
e Manuel Bandeira, que não pôde comparecer e cujo poema Os Sapos foi lido por
Ronald de Carvalho sob um coro de coaxos e apupos.
Mário de Andrade leu seu
ensaio “A escrava que não é Isaura” nas escadarias do teatro. Obras de Anita
Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e outros artistas plásticos e
arquitetos foram expostas. Por fim, apresentaram-se a pianista Guiomar Novaes e
o maestro e compositor Heitor Vila-Lobos, que não foi poupado das vaias. Como
se vê, a recepção da Semana não foi tranquila. As ousadias modernistas
inquietavam e irritavam o público.
Mário
de Andrade e o Modernismo
Foram a Semana de 22 e seus
desdobramentos que projetaram Mário de Andrade como figura decisiva do
movimento modernista. No processo de implantação da nova mentalidade cultural,
Mário destacou-se como teorizador e ativista cultural. Com a determinação
própria dos líderes que pretendem injetar uma nova consciência, multiplicou-se
em músico, pesquisador de etnografia e folclore, poeta, contista, romancista,
crítico de todas as artes, correspondente cultural que troca cartas com
artistas novos consagrados, além de ter ocupado vários cargos na burocracia
estatal, relacionados com o desenvolvimento da cultura em suas várias
manifestações.
Era um sujeito muito sério,
católico fervoroso, dotado de uma capacidade extraordinária de estudo e ação.
Com carisma e afeto, conseguiu colocar a renovação modernista no trilho de um
presente e de um futuro culturais marcados por um nacionalismo arejado e
lúcido.
A SÍNTESE DO
ROMANCE – RAPSÓDIA
CAPÍTULO
I - MACUNAÍMA
Macunaíma, “herói de nossa
gente” nasceu à margem do Uraricoera, em plena floresta amazônica. Descendia da
tribo dos Tapanhumas e, desde a primeira infância, revelava-se como um sujeito
“preguiçoso”. Ainda menino, busca prazeres amorosos com Sofará, mulher de seu
irmão Jiguê, que só lhe havia dado pra comer as tripas de uma anta, caçada por
Macunaíma numa armadilha esperta. Nas várias transas (“brincadeiras”) com
Sofará, Macunaíma transforma-se num príncipe lindo, iniciando um processo
constante de metamorfoses que irão ocorrer ao longo da narrativa: índio negro,
vira branco, inseto, peixe e até mesmo um pato, dependendo das
circunstâncias.
CAPÍTULO
II - MAIORIDADE
De tanto aprontar, foi
abandonado pela mãe no meio do mato. Tremelicando, com as perninhas em arco,
Macunaíma botou o pé na estrada até que topou com o Curupira e perguntou-lhe
como faria para voltar pra casa. Maliciosamente, o Curupira ensina-lhe um
caminho errado que Macunaíma, por preguiça, não seguiu. Escapando do monstro, o
herói topou com uma voz que cantava uma toada lenta: era a cotia, que depois de
ouvir o piá contar como enganara o Curupira, jogou-lhe em cima calda envenenada
de mandioca. Isto fez Macunaíma crescer, atingindo o “tamanho dum homem
taludo”.
CAPÍTULO
III – CI, MÃE DO MATO
Encontra Ci, a Mãe do Mato e
inventa com ela lindas e novas maneiras de gozos de amor. O resultado desse
idílio é o nascimento de um curumi, que morreu prematuramente depois de mamar
no único peito de Ci, envenenado pela Cobra Preta. Enterrado o filho, Ci também
resolveu deixar este mundo. Deu ao herói sua muiraquitã famosa e subiu pro céu
por um cipó, transformando-se numa estrela.
CAPITULO
IV – BOIÚNA LUNA
Tomado de tristeza, Macunaíma
despediu-se das Icamiabas e partiu rumo às matas misteriosas. No caminho,
encontra Capei, monstro fantástico que abre a goela e solta uma nuvem de
marimbondos. Nas lutas contra o monstro, Macunaíma perde seu talismã e fica
sabendo, através de um uirapuru, que a tartaruga que engolira sua pedra tinha
sido apanhada por um mariscador. Este vendera a muiraquitã a um rico fazendeiro
chamado Venceslau Pietro Pietra, proprietário de uma mansão na rua Maranhão, em
São Paulo. Macunaíma resolve, então, vir para a capital paulista recuperar sua
muiraquitã.
CAPÍTULO
V - PIAIMÃ
O herói junta seus irmãos e
desce o Araguaia, com sua esquadra de igarités cheias de cacau. Em São Paulo,
fica sabendo que Venceslau Pietro Pietra era o gigante Piaimã, comedor de
gente, companheiro de uma caapora velha chamada Ceiuci, também antropófaga e
muito gulosa. Esse capítulo apresenta uma das passagens mais saborosas do
romance: a chegada de Macunaíma e seus irmãos à cidade de São Paulo. Nesse
momento, Mário de Andrade inverte os relatos quinhentistas da Literatura
Informativa. Aqui é o índio que se depara com a dita “civilização” e procura
assimilá-la, digerindo-a com suas próprias enzimas culturais.
CAPÍTULO VI – A FRANCESA E O
GIGANTE
Depois de uma tentativa de aproximação
frustrada, Macunaíma resolve se vestir de francesa para conquistar Venceslau
Pietro Pietra e reconquistar sua muiraquitã. O regatão não emprestou a pedra
nem quis vendê-la. Mas deixou claro que poderia dá-la se a francesa resolvesse
“brincar” com ele… Muito inquieto, Macunaíma foge, percorrendo, em louca
correria, grande parte do território
brasileiro.
CAPÍTULO
VII - MACUMBA
Como não tivesse força
suficiente pra matar o gigante, Macunaíma vem para o Rio de Janeiro procurar o
terreiro de macumba da tia Ciata. Pediu à macumbeira vários castigos pro
gigante Piaimã que, além de receber a chifrada de um touro selvagem, é ferroado
por quarenta mil formigas-de-fogo.
CAPÍTULO
VIII – VEI, A SOL
É também no Rio de Janeiro que
Macunaíma reencontra a Vei, a deusa-sol que pretendia casar uma de suas três
filhas com o herói. Embora tivesse prometido, Macunaíma não cumpriu a palavra
empenhada: logo que anoiteceu, convidou uma portuguesa e brincou com ela na
jangada. Depois foram descansar num
banco da avenida Beira-mar, no Flamengo, quando surgiu Mianiquê-Teibê,
monstro de garras enormes com olhos no lugar dos peitos e duas bocarras nos
pés, de dentes aguçados. Macunaíma saiu correndo pela praia; o monstro comeu a
portuga e desapareceu.
CAPÍTULO
IX – CARTA PRAS ICAMIABAS
O herói retorna a São Paulo e,
saudoso, resolve escrever uma “carta pras icamiabas”, relatando como era sua
vida em São Paulo. Faz, num satírico estilo beletrista, uma descrição da
agitada vida paulistana, com seus arranha-céus, ruas “habilmente estreitas”
cheias de gente, cinemas, casas de moda, ônibus, estátuas e jardim. Nesta
pernóstica missiva, o corrupto Imperador faz questão de detalhar para as
amazonas a prática constante de amores pecaminosos, tanto que ele até pensa em
tirar proveito da exploração do lenocínio. Critica o capitalismo selvagem dos
paulistas locomotivas e dos italianos arrivistas, destacando, horrorizado, ao
final, uma curiosidade original deste povo: “falam numa língua e escrevem
noutra”. Depois de abençoar as suas súditas, termina a carta, com a maior
desfaçatez, pedindo mais uma “gaita” pras suas fiéis icamiabas.
CAPÍTULO
X – PAUÍ-PÓDOLE
A surra que Venceslau Pietro
Pietra recebeu de Exu foi tão violenta que ele ficou meses numa rede, travado
pelos suplícios a que foi submetido. Sem poder readquirir a muiraquitã,
Macunaíma ocupou-se então do complicado estudo das duas línguas da terra, “o
brasileiro falado e o português escrito”. Interrompe um mulato pedante que
fazia um verborrágico discurso sobre o Cruzeiro do Sul, falando que aquelas
quatro estrelas que brilham no vasto campo do céu são, na verdade, o Pai do
Mutum, figura zoocosmológica que teve seu corpo de ave metamorfoseado numa
constelação.
CAPÍTULO
XI – A VELHA CEIUCI
Depois de ter passado a noite
brincando com a patroa da pensão, Macunaíma falou pros seus irmãos Maanape e
Jiguê que tinha achado “rasto fresco de tapir”, em pleno asfalto paulistano,
junto à Bolsa de Mercadorias. Induziu seus irmãos a caçarem o animal e estes
quase acabam sendo linchados pela multidão que se aglomerou pra assistir à
caçada. Um estudante subiu na capota de um automóvel e discursou contra Maanape
e Jiguê. Foi interrompido por Macunaíma que, tomado por um efêmero acesso de
fraternidade, resolveu defender os irmãos entrando no meio da multidão e
distribuindo rasteiras e cabeçadas até ser preso por um “grilo”, soldado da
antiga guarda-civil de São Paulo. No meio da confusão, o herói conseguiu fugir
e foi ver como passava o gigante Venceslau Pietro Pietra, ainda “convalescendo
da sova apanhada na macumba”. Faz uma aposta com o curumi Chuvisco pra ver quem
conseguia assustar o gigante e sua família. Perde a aposta e resolve fazer uma
pescaria. Como não tivesse anzol, o herói se transforma numa “piranha feroz”
pra cortar a linha de um inglês que pescava a seu lado. Acontece que a velha
feiticeira Ceiuci, mulher do gigante, também costumava pescar no igarapé Tietê
e prende o herói. Ao ser pescado pela tarrafa da feiticeira, Macunaíma vira um
pato que devia ser logo comido. Além de brincar com a filha mais moça de Ceiuci, ludibria-a e foge,
montado “num cavalo castanho-pedrez que pra carreira Deus o fez”. É uma fuga
espetacularmente surrealista: num momento está em Manaus e noutro em Mendoza,
na Argentina.
CAPÍTULO
XII – TEQUETEQUE, CHUPINZÃO E A INJUSTIÇA DOS HOMENS
Desesperado porque ainda não
conseguira reaver a muiraquitã, Macunaíma se disfarça de pianista e tenta,
junto ao governo, uma bolsa de estudos na Europa, para onde Venceslau Pietro
Pietra havia viajado. Não conseguindo a bolsa, sai a viajar com os manos pelo
Brasil pra ver se acha “alguma panela com dinheiro enterrado”. Nestas andanças,
encontra um macaco comendo coquinho baguaçu. Como estava com fome, o herói
pergunta ao macaco o que estava comendo e ouve a seguinte resposta cínica: “--
Estou quebrando os meus toaliquiçus pra comer.” Macunaíma resolveu imitá-lo,
agarrou um “paralelepípedo e juque! nos toaliquiçus. Caiu morto.” Só conseguiu
ressuscitar graças à feitiçaria de Maanape, que colocou no lugar do órgão
destruído dois cocos-da-baía. Depois “assoprou fumaça de cachimbo no
defunto-herói” e este reanimou-se, tomando guaraná e uma dose de pinga.
CAPÍTULO
XIII – A PIOLHENTA DE JIGUÊ
Jiguê resolveu se amulherar
com Suzi, cunhatã muito velhaca que passava todo o tempo namorando Macunaíma.
Jiguê descobre, fica furioso, dá uma baita surra no herói e expulsa Suzi com
uma porretada. Levada por seus piolhos, Suzi vai “pro céu virada na estrela que
pula”.
CAPÍTULO
XIV - MUIRAQUITÃ
Maanape comunica ao herói a
volta de Venceslau Pietro Pietra. Macunaíma enche-se de coragem e decide matar
o gigante. Come cobra e, com muita esperteza, coloca Piaimã balançando num cipó
de japecanga, embala-o com força e o gigante acaba caindo dentro de um buraco
onde Ceiuci, a velha caapora, preparava uma imensa macarronada. O gigante cai
na água fervente e o cheiro de seu couro cozido, além de matar todos os
ticoticos da cidade, provoca o desmaio de Macunaíma. Quando se recupera, o
herói apanha a muiraquitã e volta pra pensão.
CAPÍTULO
XV – A PACUERA DE OIBÊ
Morto Piaimã e reconquistada sua muiraquitã,
Macunaíma, Maanape e Jiguê são novamente índios e resolvem voltar para o
distante Uraricoera. O herói levava no peito “uma satisfação imensa”, mas não
deixa de ter saudade de São Paulo. Tanto que levava consigo todas as coisas que
mais o haviam entusiasmado na “civilização paulista”: um casal de legornes, um
revólver Smith-Wesson e um relógio Patek. Um bando de aves forma uma grande
tenda de asas coloridas que protegem o Imperador do Mato-Virgem. Nesta viagem
de volta feliz, o herói teve novas aventuras amorosas, lembrando-se com saudade
da vida dissoluta que levara em São Paulo: encontra-se com Iriqui (antiga
companheira de Jiguê) e com uma linda princesa que tinha sido transformada num
pé de carambola. Com sua muiraquitã, o herói faz uma mandinga e o caramboleiro
vira “uma princesa muito chique”, com quem tem vontade de brincar, mas não
pode, pois são perseguidos pelo Minhocão Oibê. Graças a uma nova mandinga, o
herói transforma Oibê num cachorro-do-mato, de rabo cabeludo e goela
escancarada. Como Macunaíma agora só queria brincar com a princesa, Iriqui fica
tristíssima e sobe “pro céu, chorando luz, virada numa estrela”.
CAPÍTULO
XVI - URARICOERA
Finalmente, chega ao
Uraricoera natal e, ao passar por um lugar chamado Pai da Tocandeira, reconhece
suas raízes e chora: a maloca da tribo era agora uma tapera arruinada. Uma
sombra leprosa devora seus irmãos e a princesa, e o herói fica “defunto sem
choro, no abandono completo”, empaludado e sem forças para construir uma oca.
Ata sua rede em dois cajueiros no alto da barranca junto do rio e assim passa
seus dias “caceteado e comendo cajus”. Todas as aves também o abandonam,
ficando somente um papagaio pra quem o herói conta todos os casos que lhe
tinham acontecido. Graças a este papagaio é que se salvou do esquecimento a
história do herói, parido por uma índia tapanhumas.
CAPÍTULO
XVII – URSA MAIOR
Num dia de janeiro de muito calor, o herói
acorda sentindo umas “cosquinhas”, que até lhe parecem feitas “por mãos de
moça”. Era a última vingança de Vei, a Sol, tramando para liquidá-lo de vez.
Macunaíma lembra-se de que há muito não brincava e vai tomar banho num lagoão,
pensando que a água fria viria amortecer seus desejos de amor. O herói,
encaminhando-se para a água, enxerga lá no fundo “uma cunhã lindíssima”, ora
branca de cabelos louros, ora morena de cabelos negros, que começa a tentá-lo
com danças e meneios. Macunaíma hesita, temeroso, mas acaba mergulhando na
lagoa, desvairado pelos encantos irresistíveis da uiara. Esta o mutila,
devorando-lhe uma perna, os brincos, os cocos-da-baía, as orelhas, os dedões, o
nariz e os beiços. Desaparece também com sua muiraquitã: o herói pula e dá “um
grito que encurtou o tamanho do dia”. Tem ainda força para lançar plantas
venenosas no lagoão, matando peixes, piranhas e botos que lá estavam. No afã de
recuperar seus tesouros, Macunaíma abre-lhe as barrigas e o que encontra
reprega no corpo mutilado, com sapé e cola de peixe. Não consegue, todavia,
reconquistar a perna nem a muiraquitã, “engolidas pelo monstro Ururau”. E assim
tudo se acaba. Macunaíma, mutilado, vai bater na casa do Pai Mutum, que, com dó
dele, faz uma feitiçaria e transforma-o na constelação da Ursa Maior. “Ia pro
céu viver com a marvada. Ia ser o brilho bonito mas inútil porém de mais uma
constelação.” Neste balanço que Macunaíma faz de sua existência, ele dialoga
com sua consciência e deixa sua mensagem para a posteridade: “Não vim no mundo
para ser pedra”. A pedra simboliza disciplina rígida, método, lapidação de
caráter, traços que Macunaíma, a própria encarnação da esperteza e da
improvisação, nunca quis assumir.
EPÍLOGO
“Acabou-se a história e morreu a vitória”. Os
filhos da tribo dos Tapanhumas “se acabaram de um em um”. “Uma feita um homem
foi lá” e, rompendo o “silêncio enorme” que “dormia à beira-rio do Uraricoera”,
ouve-se:
-- “Curr-pac, papac! curr-pac, papac!…”
Era o papagaio ao qual
Macunaíma havia contado toda a sua história. “Então o pássaro principiou
falando numa fala mansa, muito nova, muito!”
“Tudo ele contou pro homem e
depois abriu asa rumo de Lisboa. E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra
vos contar a história. Por isso que vim aqui. Me acocorei em riba destas
folhas, catei meus carrapatos, ponteei na violinha e em toques rasgado botei a
boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói
da nossa gente”. Era o próprio Mário de Andrade. “Tem mais não”.
ANÁLISE
DA OBRA
Macunaíma
e a renovação da linguagem literária
Publicado em 1928, numa tiragem de apenas
oitocentos exemplares (Mário de Andrade não conseguira editor), Macunaíma, o
herói sem nenhum caráter, é uma das obras pilares da cultura brasileira.
Numa narrativa fantástica e picaresca, ou,
melhor dizendo, “malandra”, herdeira direta das Memórias de um Sargento de
Milícias (1852) de Manuel Antônio de Almeida, Mário de Andrade reelabora
literariamente temas de mitologia indígena e visões folclóricas da Amazônia e
do resto do país, fundando uma nova linguagem literária, saborosamente
brasileira.
Macunaíma - bem como Memórias Sentimentais de
João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), de Oswald de Andrade - foram
obras revolucionárias na medida em que desafiaram o sistema cultural vigente,
propondo, através de uma nova organização da linguagem literária, o lançamento
de outras informações culturais, diferentes em tudo das posições mantidas por
uma sociedade dominada até então pelo reacionarismo e o atraso cultural
generalizado.
Nacionalista crítico, sem
xenofobia, Macunaíma é a obra que melhor concretiza as propostas do movimento
da Antropofagia (1928), criado por Oswald de Andrade, que buscava uma relação de igualdade real da
cultura brasileira com as demais. Não a rejeição pura e simples do que vem de
fora, mas consumir aquilo que há de bom na arte estrangeira. Não evitá-la, mas,
como um antropófago, comer o que mereça ser comido.
O tom bem humorado e a
inventividade narrativa e linguística fazem de Macunaíma uma das obras
modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura de vanguarda no mundo,
na sua época. Nesse romance encontram-se dadaísmo, futurismo, expressionismo e
surrealismo aplicados a um vasto conhecimento das raízes da cultura
brasileira.
A
rapsódia
Mário de Andrade nos conta que
escreveu Macunaíma em seis dias, deitado, bem à maneira de seu herói, em uma
rede na “Chácara de Sapucaia”, em Araraquara, SP. Diz ainda: “Gastei muito
pouca invenção neste poema fácil de escrever (…). Este livro afinal não passa
duma antologia do folclore brasileiro.” A obra, composta em apenas seis dias, é
fruto de anos de pesquisa das lendas e mitos indígenas e folclóricos que o
autor reúne utilizando a linguagem popular e oral de várias regiões do Brasil.
Trata-se, por isso mesmo, de
uma rapsódia. Assim os gregos designavam obras como a Ilíada ou a Odisseia de
Homero, que reúnem séculos de narrativas poéticas orais, resumindo as tradições
folclóricas de todo um povo. Para o musicólogo Mário de Andrade, o termo
certamente remete às fantasias instrumentais que utilizam temas e processos de
composição improvisada, tirados de cantos tradicionais ou populares, como as
rapsódias húngaras de Liszt.
Segundo Oswald de Andrade,
“Mário escreveu nossa Odisseia e criou duma tacapada o herói cíclico e por
cinquenta anos o idioma poético nacional”.
É importante notar que, além de relatar
inúmeros mitos recolhidos e diversas fontes populares, Mário de Andrade também
inventa, de maneira irônica, vários
mitos da modernidade. Apresenta, entre outros,
os mitos da criação do futebol, do truco, do gesto da “banana” ou do
termo “Vá tomar banho!” Há, em Macunaíma, portanto, além da imensa pesquisa,
muita invenção.
As
fontes
Mário de Andrade nunca escondeu que tomou como
fonte principal para a redação de Macunaíma a obra Vom Roroima zum Orinoco (Do
Roraima ao Orenoco) de Theodor Koch-Grünberg, publicada, em cinco volumes,
entre 1916 e 1924. Graças ao monumental trabalho de Manuel Cavalcanti Proença,
Roteiro de Macunaíma, podemos acompanhar como o escritor paulista foi
reelaborando as narrativas colhidas na obra do alemão, mesclando-a a outras
fontes, como livros de Capistrano de Abreu, Couto Magalhães, Pereira da Costa
ou mesmo relatos orais, como o que o grande compositor Pixinguinha lhe fez de
uma cerimônia de macumba, para ir tecendo sua rapsódia.
Nas lendas de heróis taulipang
e arecuná, apresentadas por Koch-Grünberg, Mário de Andrade encontrou o herói
Macunaíma, que, segundo o estudioso alemão, “ainda era menino, porém mais
safado que todos os outros irmãos.”
Nas palavras do poeta-crítico Haroldo de
Campos:
“O próprio Koch-Grünberg, em sua “Introdução”
ao volume, ressalta a ambiguidade do herói, dotado de poderes de criação e
transformação, nutridor por excelência, ao mesmo tempo, todavia, malicioso e
pérfido. Segundo o etnógrafo alemão, o nome do supremo herói tribal parece
conter como parte essencial a palavra MAKU, que significa “mau” e o sufixo IMA,
“grande”. Assim, Macunaíma significaria “O Grande Mau”, nome – observa Grünberg
– “que calha perfeitamente com o caráter intrigante e funesto do herói”. Por
outro lado, os poderes criativos de Macunaíma levaram os missionários ingleses
em suas traduções da Bíblia para a língua indígena a denominar o Deus cristão
pelo nome do contraditório herói tribal, decisão que Koch-Grunberg comenta
criticamente”.
O
herói sem nenhum caráter
Foi, portanto, na obra do etnólogo alemão que
Mário de Andrade, paradoxal e muito antropofagicamente, encontrou a essência do
brasileiro. O próprio autor de Macunaíma, em prefácio que nunca chegou a
publicar com o livro, nos conta como ocorreu a descoberta:
“O que me
interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que
vivo de trabalhar e descobrir o mais que possa a entidade nacional dos
brasileiros. Ora depois de pelejar muito verifiquei uma coisa que me parece
certa: o brasileiro não tem caráter. Pode ser que alguém já tenha falado isso
antes de mim porém a minha conclusão é uma novidade para mim porque tirada da
minha experiência pessoal. E com a palavra caráter não determino apenas uma
realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se
manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no sentimento na língua na
História na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter
porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional.
Os franceses têm caráter e
assim os jorubas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo
iminente, ou consciência de séculos tenham auxiliado, o certo é que esses uns
têm caráter. Brasileiro não. Está que nem o rapaz de vinte anos: a gente mais
ou menos pode perceber tendências gerais, mas ainda não é tempo de afirmar
coisa nenhuma. […] Pois quando matutava nessas coisas topei com Macunaíma no
alemão de Koch-Grünberg. E Macunaíma é um herói surpreendentemente sem caráter.
(Gozei)”
As metamorfoses pelas quais
passa a personagem, de sabor surrealista, podem muito bem ser associadas à sua
“falta de caráter”, assim como o fascínio que revela pela “língua de Camões”,
na Carta pras Icamiabas.
Foco
Narrativo
Embora predomine o foco da 3a
pessoa, Mário de Andrade inova utilizando a técnica cinematográfica de cortes
bruscos no discurso do narrador, interrompendo-o para dar vez à fala dos
personagens, principalmente Macunaíma. Esta técnica imprime velocidade,
simultaneidade e continuidade à narrativa.
Exemplo:
“Lá chegado ajuntou os
vizinhos, criados a patroa cunhãs datilógrafos estudantes empregados-públicos,
muitos empregados-públicos! Todos esses vizinhos e contou pra eles que tinha ido
caçar na feira do Arouche e matara
dois…
-- …mateiros, não eram viados mateiros, não,
dois viados catingueiros que comi com os manos. Até vinha trazendo um naco pra
vocês mas porém escorreguei na esquina, caí derrubei o embrulho e o cachorro
comeu tudo.”
(Cap. XI – A Velha Ceiuci)
Espaço
e tempo
As estripulias sucessivas de
Macunaíma são vividas num espaço mágico, próprio da atmosfera fantástica e
maravilhosa em que se desenvolve a narrativa. Em seu Roteiro de Macunaíma,
mestre Cavalcanti Proença afirma que Macunaíma se aproxima da epopeia medieval,
pois “tem de comum com aqueles heróis a sobre-humanidade e o maravilhoso. Está
fora do espaço e do tempo. Por esse motivo pode realizar aquelas fugas
espetaculares e assombrosas em que, da capital de São Paulo foge para a Ponta
do Calabouço, no Rio, e logo já está em Guarajá-Mirim, nas fronteiras de Mato
Grosso e Amazonas para, em seguida, chupar manga-jasmim em Itamaracá de Pernambuco, tomar leite de vaca
zebu em Barbacena, Minas Gerais, decifrar litóglifos na Serra do Espírito Santo
e finalmente se esconder no oco de um formigueiro, na Ilha do Bananal, em
Goiás”.
Macunaíma é um personagem outsider, enquanto
marginal, anti-herói, fora-da-lei, na medida em que se contrapõe a uma
sociedade moderna, organizada em um sistema racional, frio e tecnológico.
Assim, o tempo é totalmente subvertido na narrativa. O herói do presente entra
em contato com figuras do passado, estabelecendo-se um curioso “diálogo com os
mortos”: Macunaíma fala com João Ramalho (séc. XVI), com os holandeses (séc.
XVII), com Hércules Florence (séc. XIX) e com Delmiro Gouveia (pioneiro da
usina hidrelétrica de Paulo Afonso e industrial nordestino que criou a primeira
fábrica nacional de linhas de costura).
Enumerações
e Desregionalização
Chama a atenção do leitor
atento, em Macunaíma, a abundância de enumerações.
Já na primeira página do romance encontramos a
enumeração das danças tribais: “frequentava com aplicação a murua a poracê o
torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.”
Tais listas colocam em
evidência o trabalho de pesquisa de Mário de Andrade, que nelas frequentemente
mistura elementos de diversas regiões do país, ao buscar desregionalizar sua
obra, procurando “conceber literariamente o Brasil como entidade homogênea – um
conceito étnico nacional e geográfico”.
A grande estudiosa da obra de Mário, Telê Porto Ancona Lopez, resume bem
o problema:
“Mário de Andrade realizava em
suas leituras, pesquisa de palavras, termos e expressões características dos
diversos recantos do Brasil. Grifava e recolhia. Depois os empregava, nos
conjuntos os mais heterogêneos, procurando anular as especificações do
regional, e dar uma visão geral de Brasil (…). É pois, graças à coleta de
palavras que Mário de Andrade desenvolve, que Macunaíma pode apresentar tão
frequentes enumerações de aves, peixes, insetos ou frutas. Essas enumerações,
além de válidas para a quebra do regionalismo, contribuem para a criação de
ritmo de embolada, alternando sílabas longas e breves, no trecho em que se
inserem. Ritmo procurado, aliás, porque o autor não usa vírgulas.”
É importante ressaltar que
tais listagens não devem afastar o leitor, que muitas vezes se assusta com
tantos nomes “estranhos”. Eles precedem sempre uma definição generalizadora
como “todas essas danças religiosas da tribo”. Assim, o leitor não deve se
apavorar com a nomenclatura desconhecida e pode deixar a leitura fluir, sem
necessariamente recorrer ao dicionário para verificar todos os termos – mesmo
porque não vai encontrar a maioria deles.
A
Carta pras Icamiabas
Precisamente no meio da
narrativa, no Capítulo IX da obra, encontramos um “Intermezzo”, como o chamava
o autor. Trata-se da “Carta pras Icamiabas”, sátira feroz ao beletrismo
parnasiano da época. Macunaíma escreve a suas súditas para descrever-lhes a
cidade de “São Paulo construída sobre sete colinas, à feição tradicional de
Roma, a cidade cesárea, “capita” da Latinidade de que provimos". Mário de Andrade inverte, aqui, portanto, os
relatos dos cronistas quinhentistas, como Pero Vaz de Caminha, Gabriel Soares
de Sousa ou Pero de Magalhães Gandavo. Agora é o índio que descreve a terra
desconhecida para seus pares distantes. Sem caráter, Macunaíma o faz tomando
emprestada a linguagem rebuscada de um Rui Barbosa ou de um Coelho Neto. A
paródia torna-se hilariante devido aos erros grosseiros cometidos pelo falso
erudito , que escreve asneiras como “testículos da Bíblia” por “versículos”ou
“ciência fescenina” por “feminina”.
Com seu estilo pomposo,
Macunaíma enuncia, na Carta pras Icamiabas, o slogan que irá adotar para definir
os problemas do Brasil:
“Tudo vai num descalabro sem comedimento,
estamos corroídos pelo morbo e pelos miriápodes! Em breve seremos novamente uma
colônia da Inglaterra ou da América do Norte!... Por isso e para eterna
lembrança destes paulistas, que são a única gente útil do país, e por isso
chamados de Locomotivas, nos demos ao trabalho de metrificarmos um dístico, em
que se encerram os segredos de tanta desgraça:
"POUCA SAÚDE E MUITA
SAÚVA,
OS MALES DO BRASIL
SÃO."
Este dístico é que houvemos
por bem escrevermos no livro de Visitantes Ilustres do Instituto Butantã,
quando foi da nossa visita a este estabelecimento famoso na Europa."
O slogan recupera conhecido poema de Gregório
de Matos (1636-1695), em que o poeta satírico baiano enumera as vilezas do
país, terminando cada estrofe com o irônico refrão: “Milagres do Brasil são.”
Remete, também, à frase do cronista Saint-Hilaire: “Ou o Brasil acaba com a
saúva ou a saúva acaba com o Brasil”.
Resumo 2
MACUNAÍMA
Com uma narrativa de caráter
mítico, em que os acontecimentos não seguem as convenções realistas, a obra
procura fazer um retrato do povo brasileiro, por meio do “herói sem caráter”.
Macunaíma nasce à margem do
Uraricoera na Floresta Amazônica e já manifesta uma de suas características
mais fortes: a preguiça. Desde pequeno ele busca prazeres amorosos com a mulher
de seu irmão Jiguê. Em uma de suas “brincadeiras” amorosas, Macunaíma se
transforma em um príncipe lindo.
Por suas traquinagens,
Macunaíma é abandonado pela mãe. No meio do mato, encontra o Curupira, que arma
uma cilada para o herói, da qual acaba escapando por preguiça de seguir o falso
conselho do Curupira. Depois de contar à cotia como enganou o monstro, ela joga
calda de aipim envenenada em Macunaíma, fazendo seu corpo crescer, com exceção
da cabeça, que ele consegue desviar do caldo.
Com a ajuda dos irmãos,
Macunaíma consegue fazer sexo com Ci, a Mãe do Mato, que engravida e perde o
filho. Após a morte do filho, Ci sob ao céu e se transforma em uma estrela.
Antes disso, ela dá a Macunaíma a famosa muiraquitã, um tipo de talismã ou
amuleto.
Triste, Macunaíma segue seu
caminho após se despedir das Icamiabas (tribo das índias sem marido). Encontra
o monstro Capei e luta contra ele. Nessa batalha, perde o muiraquitã e fica
sabendo que uma tartaruga apanhada por um mariscador havia encontrado o
talismã, e esse o tinha vendido a Venceslau Pietro Pietra, rico fazendeiro,
residente em São Paulo.
O herói, acompanhado dos
irmãos, vai para São Paulo, com o objetivo de recuperar a pedra. Na cidade,
descobre que Venceslau Pietro Pietra é o gigante Piaimã, devorador de gente que
era amigo da Ceiuci, também apreciadora de carne humana.
Macunaíma disfarça-se de
francesa para seduzir o gigante Piaimã e recuperar a muiraquitã. O gigante
propõe dar a pedra ao herói disfarçado se esse aceitasse dormir com ele.
Macunaíma, então, foge numa correria por todo o Brasil.
Macunaíma vai para um terreiro
de macumba no Rio de Janeiro e pede à macumbeira que dê uma sova cruel no
gigante.
Ainda no Rio, o herói encontra
Vei, a deusa-sol. O herói promete a Vei que iria casar-se com uma de suas
filhas. Na mesma noite, no entanto, Macunaíma “brinca” (ou seja, faz sexo) com
uma portuguesa, enfurecendo a deusa. Ela manda um monstro pavoroso atrás do
herói, que foge deixando a portuguesa com o monstro.
No retorno a São Paulo,
Macunaíma escreve a famosa “Carta pras Icamiabas”, na qual descreve, em estilo
afetadíssimo, a agitação e as mazelas da vida paulistana.
Com Venceslau Pietro Pietra
adoentado por conta da surra que levou de Exu, Macunaíma fica impossibilitado
de recuperar a pedra. Assim, ele gasta seu tempo aprendendo as difíceis línguas
da terra: “o brasileiro falado e o português escrito”.
Depois de arrumar uma saborosa
confusão na cidade, o herói vai visitar o gigante, que ainda se recuperava.
Resolve fazer uma pescaria no Tietê, onde também costumava pescar Ceiuci. Além
de brincar com a filha da caapora, Macunaíma foge de Ceiuci em um cavalo que
percorre de forma surrealista a América Latina: em algumas linhas, faz o
incrível trajeto de Manaus à Argentina.
Disfarçando-se de pianista,
Macunaíma tenta obter uma bolsa de estudo para seguir no encalço de Venceslau
Pietro Pietra, que fora para a Europa. Não conseguindo ludibriar o governo,
decide viajar pelo Brasil com os irmãos. Numa das andanças, com fome, o herói
encontra um macaco comendo coquinhos. O macaco diz cinicamente que estava
comendo os próprios testículos. Macunaíma, ingenuamente, pega então um
paralelepípedo e bate com toda a força nos seus, ditos, coquinhos. O herói
morre e é ressuscitado pelo irmão Manaape, que lhe restitui os testículos com
dois cocos-da-baía.
Jiguê se enamora de uma moça
piolhenta, que brinca toda hora com Macunaíma. Quando descobre a traição, Jiguê
dá uma sova no herói e uma porretada na amante, que vai para o céu com seus
piolhos, transformada em estrela que pula.
Macunaíma mata o gigante Piaimã,
jogando-o num buraco com água fervendo, onde Ceiuci preparava uma imensa
macarronada. Depois de matar Venceslau Pietro Pietra, o herói consegue
recuperar a muiraquitã.
Macunaíma e os irmãos resolvem
voltar para o Uraricoera, levando consigo alguns pertences e uma dose de
saudade de São Paulo. Na volta, o herói tem vários casos amorosos. Perseguidos
pelo Minhocão Oibê, Macunaíma o transforma num cachorro-do-mato e segue viagem.
Chegando ao Uraricoera, o
herói se entristece ao ver a maloca da tribo destruída. Uma sombra leprosa
devora os irmãos, e Macunaíma fica só. Todas as aves o abandonam, apenas um
papagaio, a quem conta toda a sua história, permanece com ele.
Vei, a Sol, vinga a desfeita
que Macunaíma havia feito a uma de suas filhas e cria uma armadilha para o
herói, que, ao ver a uiara em uma lagoa, se deixa seduzir e acaba sendo
mutilado pelo monstro. Macunaíma consegue recuperar suas partes mutiladas,
abrindo a barriga do bicho, mas não encontra sua perna nem a muiraquitã. O
herói vai para o céu, transformado na constelação da Ursa Maior.
Por fim, no epílogo o narrador
conta que ficou conhecendo essa história através do papagaio ao qual Macunaíma
havia relatado suas aventuras.
Personagens
Macunaíma: personagem
principal do livro, é individualista, preguiçoso e faz o que deseja sem se
preocupar com nada. Além disso, é vaidoso, mente com a maior facilidade e
gosta, acima de tudo, de se entregar aos prazeres carnais.
Maanape: irmão de Macunaíma. Tinha fama de feiticeiro e representa
o povo negro.
Jiguê: outro irmão de Macunaíma. Representante do povo indígena.
Sofará: companheira de Jiguê com quem Macunaíma “brincou” diversas
vezes.
Iriqui: segunda mulher de Jiguê. Macunaíma também “brincou” com ela
diversas vezes, vindo a ganha-la de presente porque Jiguê achou que não valia a
pena brigar por causa de uma mulher.
Ci: a Mãe do Mato. Foi o grande e único amor de Macunaíma.
Engravidou dele, mas perdeu o filho e transformou-se em estrela. Foi ela quem
deu a Muiraquitã a Macunaíma.
Venceslau Pietro Pietra ou Piaimã: gigante comedor de gente, que
roubou a muiraquitã de Macunaíma.
Vei: é “a sol”. Tem duas filhas e quer que Macunaíma case com uma
delas.
Ceiuci: mulher do gigante
Piaimã, é uma velha gulosa comedora de gente.
QUESTÕES
DE VESTIBULARES
1. (UFU-MG) Leia as
afirmativas seguintes sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, e assinale a
alternativa INCORRETA:
(A) Sendo uma rapsódia, a obra
caracteriza-se pelo acolhimento e assimilação de elementos variados de nossa
cultura. Por esse caráter multifacetado, Macunaíma é inviável enquanto
representação de nossa identidade.
(B) O herói Macunaíma é um
tipo criado a partir de contos populares e está ligado a personagens do
folclore brasileiro, como Pedro Malazarte. Mais recentemente, pode-se
aproximá-lo a João Grilo, da peça Auto da Compadecida.
(C) São elementos da obra a
mitologia indígena, o folclore nacional, a nossa língua falada, os costumes
brasileiros. Os costumes brasileiros, Mário de Andrade retira-os da cidade de
São Paulo, onde Macunaíma passa um bom tempo.
(D) Há um acentuado
procedimento parodístico sustentando a obra. A paródia recai, inclusive, sobre
obras da Literatura Brasileira, como Iracema, de José de Alencar, e também
sobre a Carta do achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha.
2. (UFMG-MG) As histórias de
Macunaíma foram contadas pelo papagaio ao narrador, que vai continuar
contando-as: “… ponteei na violinha e em toque rasgado botei a boca no mundo
cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói de nossa
gente”.
Sabe-se que o livro Macunaíma
foi considerado, por seu autor, uma rapsódia.
Com relação a esse fato, é
CORRETO afirmar que:
(A) a palavra rapsódia
significa narrativa acompanhada de viola.
(B) as histórias populares,
tradicionalmente chamadas de rapsódia, são moralizadoras.
(C) o narrador “alinhava”, na
rapsódia, histórias da tradição oral.
(D) rapsódia é o nome que se
dá às narrativas orais recuperadas por escritores.
3. (FATEC)
Texto I
Então Macunaíma pôs numa
criadinha com um vestido de linho amarelo pintado com extrato de tatajuba. Ela
já ia atravessando o corgo pelo pau. Depois dela passar o herói gritou pra
pinguela:
- Viu alguma coisa, pau?
- Via a graça dela!
- Quá! Quá! Quá quaquá!...
Macunaíma deu uma grande
gargalhada. Então seguiu atrás do par. Eles já tinham brincado e descansavam na
beira da lagoa. A moça estava sentada na borda duma igaraté encalhada na praia.
Toda nua inda do banho comia tambiús vivos, se rindo pro rapaz. Ele deitara de
bruços na água rente dos pés da moça e tirava os lambarizinhos da lagoa pra ela
comer. A crilada das ondas amontoava nas costas dele porém escorregando no
corpo nu molhado caía de novo na lagoa com risadinhas de pingos. A moça batia
com os pés n’água e era feito um repuxo roubado da Luna espirrando jeitoso,
cegando o rapaz. Então ele enfiava a cabeça na lagoa e trazia a boca cheia de
água. A moça apertava com os pés as bochechas dele e recebia o jato em cheio na
barriga, assim. A brisa fiava a cabeleira da moça esticando de um em um os fios
lisos na cara dela. O moço pôs reparo nisso. Firmando o queixo no joelho da
companheira ergueu o busto da água, estirou o braço pro alto e principiou
tirando os cabelos da cara da moça pra que ela pudesse comer sossegada os
tambiús. Então pra agradecer ela enfiou três lambarizinhos na boca dele e rindo
muito fastou o joelho depressa. O busto do rapaz não teve apoio mais e ele no
sufragante focinhou n’água até o fundo, a moça inda forçando o pescoço dele com
os pés. Ele ia escorregando sem perceber de tanta graça que achava na vida. Ia
escorregando e afinal a canoa virou. Pois deixai ela virar! A moça levou um
tombo engraçado por cima do rapaz e ele enrolou-se nela talqualmente um
apuizeiro carinhoso. Todos os tambiús fugiram enquanto os dois brincavam n’água
outra vez.
(Mário de Andrade, Macunaíma.
O herói sem nenhum caráter)
Texto II
De outras e muitas grandezas
vos poderíamos ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado esta
epístola; todavia, com afirmar-vos que esta é, por sem dúvida, a mais bela
cidade terráquea, muito temos feito em favor destes homens de prol. Mas
cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original
deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão
prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra.
Assim chegado a estas plagas
hospitalares, nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da etnologia da
terra, e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou, por certo não foi
das menores tal originalidade linguística. Nas conversas utilizam-se os
paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na
vernaculidade, mas que não deixa de Ter o seu sabor e força nas apóstrofes, e
também nas vozes do brincar. Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos
será grata empresa vo-las ensinarmos aí chegado. Mas si de tal desprezível
língua se utilizam na conversão os naturais desta terra, logo que tomam da
pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu,
exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum
panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua
de Camões! De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato Ter ciência, e
mais ainda vos espantareis com saberdes, que à grande e quase total maioria,
nem essas duas línguas bastam, senão que se enriquecem do mais lídimo italiano,
por mais musical e gracioso, e que por todos os recantos da urbs é versado.
(Mário de Andrade, Macunaíma.
O herói sem nenhum caráter)
A leitura do Texto I torna
possível afirmar que essa passagem:
(A) caracteriza-se como
descrição de ações, enfocando o encontro amoroso de um moço e uma criada,
ressaltando a sensualidade de seu comportamento (“Eles já tinham brincado”).
(B) narra a exuberância da fauna
e da flora brasileiras (“Tirava os lambarizinhos da lagoa” e “A crilada das
ondas”), afirmando antropofagicamente os valores nacionais.
(C) deve ser entendida de uma
perspectiva psicanalítica, muito utilizada por Mário de Andrade, fazendo
entrever na água da igarité um símbolo da sexualidade da cena descrita.
(D) explora oposições
amorosas, em que gentilezas são retribuídas com grosserias (“Ele [...] tirava
os lambarizinhos [...] pra ela comer” e “A moça batia com os pés n’água [...]
cegando o rapaz”).
(E) insinua a futilidade das
necessidades humanas mais elementares, tais como procriar, comer e repousar,
resgatando influências do realismo – naturalismo, que precedeu o modernismo.
4. (FATEC)
Texto I
Então Macunaíma pôs numa
criadinha com um vestido de linho amarelo pintado com extrato de tatajuba. Ela
já ia atravessando o corgo pelo pau. Depois dela passar o herói gritou pra
pinguela:
- Viu alguma coisa, pau?
- Via a graça dela!
- Quá! Quá! Quá quaquá!...
Macunaíma deu uma grande
gargalhada. Então seguiu atrás do par. Eles já tinham brincado e descansavam na
beira da lagoa. A moça estava sentada na borda duma igaraté encalhada na praia.
Toda nua inda do banho comia tambiús vivos, se rindo pro rapaz. Ele deitara de
bruços na água rente dos pés da moça e tirava os lambarizinhos da lagoa pra ela
comer. A crilada das ondas amontoava nas costas dele porém escorregando no
corpo nu molhado caía de novo na lagoa com risadinhas de pingos. A moça batia
com os pés n’água e era feito um repuxo roubado da Luna espirrando jeitoso,
cegando o rapaz. Então ele enfiava a cabeça na lagoa e trazia a boca cheia de
água. A moça apertava com os pés as bochechas dele e recebia o jato em cheio na
barriga, assim. A brisa fiava a cabeleira da moça esticando de um em um os fios
lisos na cara dela. O moço pôs reparo nisso. Firmando o queixo no joelho da
companheira ergueu o busto da água, estirou o braço pro alto e principiou
tirando os cabelos da cara da moça pra que ela pudesse comer sossegada os
tambiús. Então pra agradecer ela enfiou três lambarizinhos na boca dele e rindo
muito fastou o joelho depressa. O busto do rapaz não teve apoio mais e ele no
sufragante focinhou n’água até o fundo, a moça inda forçando o pescoço dele com
os pés. Ele ia escorregando sem perceber de tanta graça que achava na vida. Ia
escorregando e afinal a canoa virou. Pois deixai ela virar! A moça levou um
tombo engraçado por cima do rapaz e ele enrolou-se nela talqualmente um
apuizeiro carinhoso. Todos os tambiús fugiram enquanto os dois brincavam n’água
outra vez.
(Mário de Andrade, Macunaíma.
O herói sem nenhum caráter)
Texto II
De outras e muitas grandezas
vos poderíamos ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado esta
epístola; todavia, com afirmar-vos que esta é, por sem dúvida, a mais bela
cidade terráquea, muito temos feito em favor destes homens de prol. Mas
cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original
deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão
prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra.
Assim chegado a estas plagas
hospitalares, nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da etnologia da
terra, e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou, por certo não foi
das menores tal originalidade linguística. Nas conversas utilizam-se os
paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na
vernaculidade, mas que não deixa de Ter o seu sabor e força nas apóstrofes, e
também nas vozes do brincar. Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos
será grata empresa vo-las ensinarmos aí chegado. Mas si de tal desprezível
língua se utilizam na conversão os naturais desta terra, logo que tomam da
pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu,
exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum
panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua
de Camões! De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato Ter ciência, e
mais ainda vos espantareis com saberdes, que à grande e quase total maioria,
nem essas duas línguas bastam, senão que se enriquecem do mais lídimo italiano,
por mais musical e gracioso, e que por todos os recantos da urbs é versado.
(Mário de Andrade, Macunaíma.
O herói sem nenhum caráter)
A Carta pras Icamiabas (Texto
II) contrasta, pelo estilo, com os demais capítulos de Macunaíma. Com base no
excerto, afirma-se que a carta escrita pelo herói a suas súditas, no contexto
do romance,
I. parodia o estilo
parnasiano, o que se constata pela escolha de vocabulário preciosista, pelo
tratamento em 2ª pessoa do plural e pelo emprego da ordem indireta na frase.
II. ironiza o artificialismo
parnasiano, cuja poesia desprezava soluções coloquiais, próprias da língua
falada.
III. expressa, pela ironia, a
tese modernista da incorporação de contribuições do linguajar do imigrante,
integrado à população nacional.
IV. representa o
antimodernismo, pois traz soluções de linguagem e de estilo que o Modernismo
negou, em nome da nacionalização da língua literária.
São corretas as afirmações:
(A) I, II, III e IV (B) I e IV apenas (C) I, II e III apenas (D) II e IV apenas
(E) II, III e IV apenas
5. (FUVEST) Leia o trecho da
"Carta para icamiabas", de Macunaíma, de Mário de Andrade para
responder ao teste.
"As donas de São Paulo,
sobre serem mui formosas e sábias, não se contentam com os dons e excelência
que a Natura lhes concedeu; assaz se preocupam elas de si mesmas (...). Assim é
que chamaram mestras da velha Europa, e sobretudo de França, e com elas
aprenderam a passarem o tempo de maneira bem diversa da vossa. Ora se alimpam,
e gastam horas nesse delicado mester, orar encantam os convívios teatrais da
sociedade, ora não fazem coisa alguma; e nesses trabalhos passam elas o dia tão
entretecidas e afanosas que, em chegando a noute, mal lhes sobra vagar pra
brincarem e presto se entregam nos braços de Orfeu, como se diz."
No trecho transcrito,
Macunaíma revela sua:
(A) percepção dos
comportamentos fúteis e artificiais das mulheres paulistanas.
(B) rejeição ao comportamento
elegante e refinado das mulheres da cidade.
(C) ânsia por compreender e
incorporar-se à sofisticada vida urbana paulistana.
(D) análise crítica em relação
à cultura exibicionista da rica burguesia paulistana.
(E) habilidade e perspicácia
em decodificar rapidamente os códigos que regem a sociedade burguesa
paulistana.
GABARITO: 1.a 2.c 3.a 4.a 5.a